segunda-feira, 15 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Manobra de Valsalva
Alguns dias atrás, em minha aula de canto com a turma semi-intensiva da 4act Performing Arts - http://www.4act.art.br/performingarts/2012/ - o professor Rafael Villar comentou sobre a manobra de Valsalva durante exercícios de musculação e seus impactos para as estruturas da laringe. Ontem tivemos uma aula incrível com dois renomados profissionais: Dr. Reinaldo Yasaki (Otorrino) e a Dra. Sílvia Pinho (Fonoaudióloga) ficou claro que um profissional da voz, como os cantores, deve ter em mente um trabalho multidisciplinar, com professor de canto, Fonoaudiólogo e Otorrino. Por isso vou dar algumas dicas sobre a manobra de Valsalva e como ela pode ser substituída no momento do exercício de força.
Antes é preciso relembrar a atuação de alguns músculos. Para inspirar utilizamos a contração do diafragma e dos músculos intercostais externos. O diafragma se encontra abaixo da cavidade torácica e sua contração infla os pulmões com ar atmosférico. Os intercostais externos, como o próprio nome diz, encontram-se entre as costelas e fazem um movimento de abdução costal (afastamento das costelas) aumentando a área torácica total.
Para expirarmos, utilizamos os músculos da parede abdominal anterior e os intercostais internos. A contração da parede abdominal faz com que o diafragma relaxado exerça pressão nos pulmões, exalando o ar inspirado anteriormente, e a contração dos intercostais internos (localizados entre as costelas) causa um efeito antagonista, ou seja contrário aos intercostais externos, comprimindo assim, ainda mais os pulmões.
A manobra de Valsalva é caracterizada pela contração do diafragma aliado ou não com os intercostais externos, enchendo os pulmões de ar, seguido por contração da parede abdominal. Como já vimos, a contração do abdômen exerce tensão no diafragma e pulmões e o esperado é que se expire o ar, porém, em algumas situações, como na musculação, o indivíduo contrai músculos da laringe formando um mecanismo valvular de retenção de ar (pregas vestibulares em adução), e isso geral um aumento da pressão intra-abdominal, intratorácica e intra-laríngea.
Alguns estudos¹ sugerem que esse aumento de pressão intra-abdominal aumente a estabilidade lombar durante um exercício de força intensiva, além disso se a manobra ocorrer de forma prolongada, atenua o fluxo sanguíneo venoso e acarreta uma diminuição acentuada do volume de ejeção sistólica do coração, desencadeando uma queda da pressão arterial até abaixo do nível de repouso. Quando a glote é aberta (abdução das pregas vestibulares) a pressão intra-laríngea e torácica são restabelecidas, porém com uma elevação excessiva na pressão arterial. Podemos ver o comportamento da pressão sanguínea durante a manobra de Valsalva no gráfico ao lado. (HÉBERT JL, et al. Pulse pressure response to the straim of the Valsalva maneuver in humans with preserved systolic function. J Appl Physiol 1998;85:817).
Apesar desse aumento fisiológico de pressão, a manobra só é contraindicada para hipertensos, cardiopatas e idosos. Mas o que ela acarreta para os tecidos da laringe? Alguns artigos² dizem que o aumento da pressão intra-laríngea tem grande responsabilidade no desenvolvimento de uma série de patologias. Assim como a tosse, que é uma manobra de Valsalva modificada (de curta duração) este mecanismo valvular de retenção do ar acarreta aumento do atrito entre as pregas vocais e uma irrigação excessiva dos tecidos.
Vale lembrar que estamos falando sobre profissionais da voz, ou seja, pessoas que utilizam a voz com mais intensidade. Por isso a economia do atrito entre as pregas vocais é um fator profissional e preventivo. O corpo humano como um todo possui uma capacidade morfo-funcional, ou seja de adaptar-se anatomicamente segundo a função da estrutura. Uma laringe utilizada de modo intenso e sem acompanhamento Fonoaudiólogo e Otorrino pode sofrer adaptações negativas, como calos e fendas.
Então, como realizar os exercícios de força evitando a manobra de Valsalva? Simples, não retenha o ar com a glote, mantendo os músculos da inspiração contraídos em isometria (diafragma e intercostais externos) sem causar um efeito valvular. Ou então, simplesmente inspire ao realizar o movimento concêntrico, sem tentar reter o ar.
Referências:
1- MCARDLE WD, KATCH FI, KATCH VL. Fisiologia do Exercício - Energia, Nutrição e Desemponho Humano. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. Sexta Edição, 2001; p273-274.
2- THOMÈ R, THOMÈ DC. Laringocele e cisto sacular primário, tratamento cirúrgico por via externa: ressecção através da membrana tíreo-hióidea. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. Vol. 61 - edição 6, p.427-436.
terça-feira, 9 de abril de 2013
Habilidade x Capacidade
É muito difícil aprender o que é logaritmos na matemática se você não sabe multiplicar, da mesma forma, conceitos básicos das atividades físicas te ajudam a aprender e desenvolver seu treino, desempenho ou coreografia. Para hoje vamos distinguir HABILIDADES motoras de CAPACIDADES motoras.
Tente neste momento, você mesmo, a pensar nas diferenças entre essas duas expressões. Parece simples, mas vou escrever uma sequência de palavras e resolva como agrupá-las em habilidades e capacidades motoras:
1. Flexibilidade
2. Correr
3. Girar
4. Força muscular
5. Salto em distância
Se você agrupou 1, 4, e 6, você escolheu o grupo das capacidades, e 2, 3 e 5 são habilidades.
Para entender de uma vez por todas: Habilidade motora é aquilo que se aprende ao longo da vida, e Capacidade motora é aquilo que se nasce com, e pode ser desenvolvido. As habilidades são conjuntos de movimentos que agrupados da forma certa desempenham uma função, por exemplo 'andar'. Existem habilidades fundamentais de deslocamento (andar, correr, saltitar, saltar) de manipulação (segurar, lançar, quicar, chutar) e de estabilização (girar, rolar, equilibrar-se) e a combinação dos três anteriores (correr e saltar, andar equilibrando-se numa barra, saltar girando). E existem habilidades específicas que são aquelas que foram criadas pelo ser humano, podendo ser dividido e combinado nos três aspectos anteriores: deslocamento (chassê do ballet, salto carpado da ginástica), manipulação (girar uma espada, manipular uma fita de ginástica rítmica chute 'bica' do futebol) e estabilização (pirueta do jazz, rolamento lateral do judô, avião da ginástica).
Já as capacidades motoras, todos os seres humanos possuem. Podem ser divididas em condicionantes (força explosiva, força de resistência, flexibilidade, velocidade, agilidade) e coordenativas (ritmo, equilíbrio, coordenação multimembros, adaptação espaço-temporal). Existem muitas outras capacidades e todas elas são desenvolvidas durante o processo de crescimento e desenvolvimento humano.
Apesar de diferentes, as habilidades e capacidades estão totalmente ligadas. Não é possível executar um salto com dupla pirueta (habilidade específica de estabilização e deslocamento) se você não desenvolveu força muscular explosiva, equilíbrio e coordenação motora (capacidades motoras condicionantes e coordenativas).
Agora que você já sabe a diferença, tente realizar na prática, vamos treinar!!!!
Já as capacidades motoras, todos os seres humanos possuem. Podem ser divididas em condicionantes (força explosiva, força de resistência, flexibilidade, velocidade, agilidade) e coordenativas (ritmo, equilíbrio, coordenação multimembros, adaptação espaço-temporal). Existem muitas outras capacidades e todas elas são desenvolvidas durante o processo de crescimento e desenvolvimento humano.
Apesar de diferentes, as habilidades e capacidades estão totalmente ligadas. Não é possível executar um salto com dupla pirueta (habilidade específica de estabilização e deslocamento) se você não desenvolveu força muscular explosiva, equilíbrio e coordenação motora (capacidades motoras condicionantes e coordenativas).
Agora que você já sabe a diferença, tente realizar na prática, vamos treinar!!!!
sábado, 30 de março de 2013
Educação Física e o Vestibular
Hoje quero mostrar que a Educação Física também está presente nos vestibulares. Porém, infelizmente, não está presente do modo apropriado nas escolas. Sem muitos comentários, tente resolver as questões, que na maioria só exigem atenção e interpretação de texto. Gabarito e comentários abaixo.
90 (FUVEST 2012
- Primeira Fase)
O gráfico abaixo representa a força F
exercida pela musculatura eretora sobre a coluna vertebral, ao se levantar um
peso, em função do ângulo I, entre a direção da coluna e a horizontal. Ao se
levantar pesos com postura incorreta, essa força pode se tornar muito grande,
causando dores lombares e problemas na coluna.
Com base nas informações dadas e no
gráfico acima, foram feitas as seguintes afirmações:
I.
Quanto menor o valor do ângulo, maior o peso que se
consegue levantar.
II.
Para evitar problemas na coluna, um
halterofilista deve procurar levantar pesos adotando postura corporal cujo
ângulo seja grande.
III.
Quanto maior o valor de ângulo, menor a tensão na
musculatura eretora ao se levantar um peso.
Está correto apenas o que se afirma
em:
a)I b)II c)III d)I e II e)II e III
132 (ENEM 2012)
108 (ENEM 2011)
108 (UEL - Universidade Estadual de Londrina, 2012)
Observe a obra de Henri Matisse intitulada A dança e
marque o que for correto em relação ao tema.
(HENRI MATISSE, Dança (primeira versão), 1909. Óleo s/tela,
640x423cm. MoMa, Nova Iorque. Retirado de PARANÁ. Arte:
Ensino Médio. Curitiba: SEED, 2006, p. 307.)
01) A obra A dança, de Henri Matisse, representada por
cinco corpos nus em movimento, ilustra a dança
como uma forma de linguagem corporal, permitindo
diferentes possibilidades e combinações de
movimentos. Nesse sentido, a dança pode ser
entendida também como uma forma de expressão e
apropriação do mundo.
02) As danças veiculadas pela televisão são conhecidas
como danças populares por serem popularizadas nas
paradas de sucesso e consumidas pela população.
Elas assumem formas corporais semelhantes às
representadas nessa obra de Matisse.
04) A dança expressa na obra de Matisse é conhecida
como balé clássico, uma vez que ela prevê a
completa harmonia, a valorização da técnica e a
excelência dos gestos corporais.
08) São perceptíveis, na obra aqui reproduzida, formas
distintas de expressão do corpo, organizadas a partir
da entrega ao gesto coletivo, representado, em
especial, pelo ato de dar as mãos.
16) A forma livre de expressão do corpo na obra A dança
identifica corpos dançantes arrítmicos (sem ritmo).
Isso ocorre porque o ritmo pressupõe movimento
ordenado, métrico e organizado temporalmente, o
que não ocorre na figura
.
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Gabarito:
Fuvest - alternativa: e
Essa questão estava na prova de Física da PRIMEIRA FASE. Foi um presente paras os vestibulandos, já que a prova de física é sempre uma das mais temidas. Essa só exigia compreensão de texto e análise de gráfico. Primeira leitura importante, que a fuvest adora brincar, verifique que o ângulo, no gráfico a curva não é infinita, ele vai até uma região próxima de 90 graus. Na sequência ele faz três afirmações e pede as corretas. Na primeira afirmação, basta ver o gráfico, quanto menor o ângulo, maior a força que os músculos terão de fazer, por tanto, menor o peso que se consegue levantar. Na segunda: levando em consideração a curva no gráfico, é verdadeiro, pois quanto mais ereta a coluna, menores os problemas articulares. A terceira: verdadeira também, pelo mesmo motivo, quanto mais próximo aos 90 graus menor a tensão nos músculos eretores da coluna.
Enem 2012 - alternativa: a
Também é questão de interpretação, pois os dois benefícios da alternativa certa, estão escritos no desenho acima. A Bradicardia, menor ritmo cardíaco em repouso, e melhor eficiência na circulação de oxigênio no sangue, são adaptações crônicas positivas decorrente da prática de exercícios regulares.
Enem 2011 - alternativa: a
Essa questão pode ser respondida por eliminatória facilmente. Na alternativa b, o texto diz que o que a dança revela, desconsidera os fatos históricos, e isso é falso, já que a dança, assim como qualquer outra gradeza de arte, está intimamente relacionada aos fatos e movimentos históricos. Na c, o texto diz que aspectos mitológicos e religiosos, se sobrepõe aos aspectos políticos, fácil saber que é falso, só pensar no período da ditadura militar, por exemplo, onde a política plastificou as manifestações artísticas. Na d, o texto diz algo sobre classificação em ranking das mais originais, e isso é uma afirmação estranha. Na última mesma coisa que a alternativa b e c.
UEL - alternativas: 1 e 8
Também por eliminatória: 2- as danças veiculadas na televisão, são danças de massa, e não populares, se fossem, teríamos que assistir carimbó, frevo, ciranda, etc no lugar de funk e axé por exemplo. 4- Esta movimentação está longe de ser o balé clássico, pois não apresenta preocupação com forma nem técnica. 16- impossível saber se estão arrítmicos em uma foto, além do que, pela etimologia da palavra, ritmo significa harmonia de movimento, que sugere efeito subjetivo.
quarta-feira, 27 de março de 2013
Aprendendo o Aprender
Acho importante tratar hoje sobre um tema que todos deveriam
saber muito bem. Como o ser humano aprende? Como funciona o mecanismo de
armazenamento de dados de nosso cérebro? Você realmente nunca desaprende andar
de bicicleta? Entenda a partir de agora como nosso corpo interpreta as
instruções de nossos professores e como nós conseguimos reproduzir os
movimentos mostrados por ele.
O processo de aprendizagem inicia sempre com um estímulo
sensorial. Começamos a perceber o mundo principalmente através da visão e
audição. Vamos imaginar que dois alunos precisam aprender uma pirueta de Jazz,
por exemplo, e que estes alunos nunca tiveram acesso à música ou dança antes, e
não faziam idéia do que se tratava a tal pirueta. O primeiro passo é a
utilização da visão. O professor mostra como se faz e pede para que o imitem.
Depois de alguns segundos, ou até mesmo milésimos de segundos, eles executam um
movimento semelhante ao que viram. Um deles muito bem executado, o outro
apresentando muitas falhas. Uma semana depois ambos estão executando a postura
sem falhas, mas com um desempenho ruim (sem equilíbrio, por exemplo). Dois
meses depois ambos melhoraram o desempenho e, agora já fazem a pirueta segundo
um padrão ideal de movimento (P.I.M.), ou seja, assim como o professor mostrou
na primeira aula.
Qual o motivo da diferença pela qual um dos alunos demorou
mais para executar a postura sem falhas graves? Por que mesmo assim os dois
alcançaram o P.I.M.? Vamos entender:
Tudo começou na execução da pirueta pelo professor, onde os
olhos dos alunos captaram a imagem da preparação, da postura e do giro. Neste
momento os dois ativaram no sistema nervoso central um mecanismo chamado
Mecanismo Perceptivo. A imagem vista pelos alunos automaticamente foi processada
no cérebro e comparada a algum outro movimento já conhecidos por eles. As
pessoas que tiveram uma infância onde foram muito bem estimuladas motoramente
têm a chance de achar mais informações nesse momento, e executar com mais
facilidade aquilo que viu (este pode ser o caso do primeiro aluno, que não
apresentou muitos erros). Quando não achamos nenhum movimento onde podemos
comparar com o que foi visto, dizemos que a pessoas não tem um Padrão de
Referência Interno (P.R.I.) formado.
Milésimos de segundos depois, nosso cérebro já ativa o
segundo mecanismo, o Mecanismo Decisório. Como o nome diz, é quando decidimos o
que fazer no plano motor, se imitamos algo que já havíamos feito no passado, ou
se executamos um movimento totalmente novo para nós. Quase que ao mesmo tempo
já ativamos o próximo mecanismo, o Mecanismo Efetor, que libera estímulos
nervosos para o músculo que decidimos utilizar, a fim de executar o movimento.
O próximo passo é responsabilidade do sistema muscular e de
nossa capacidade física (força e flexibilidade por exemplo). Depois de todo
esse processamento de informações é hora da auto avaliação, ou da avaliação do
professor. Onde são fornecidos feedback’s e dicas para o aluno melhorar sua execução.
A cada dica fornecida, todo a processamento de informações é repetido,
iniciando sempre pela captação dos órgãos sensoriais (nos olhos, se o professor
mostrar a postura novamente, nos ouvidos, se o professor apenas deu uma dica
verbal, ou em ambos).
Depois das dicas e dos feedback’s, provavelmente o aluno
executou o movimento muito parecido com o do professor, suas limitações são
apenas força, flexibilidade ou equilíbrio, por exemplo, já que essas
capacidades dependem de treino, e são adquiridas com o tempo (por isso só
depois de dois meses que os alunos melhoraram seu desempenho). Será que o aluno
realmente aprendeu a pirueta? Seu P.R.I. está formado? Ainda não podemos ter
certeza. É preciso fazer um Teste de Retenção, ou seja, ver se nas próximas
aulas o aluno vai se lembrar de tudo que foi corrigido, ou se ainda precisará
de muitas dicas e correções.
Caso o aluno execute o movimento sem precisar de nenhuma
correção, seu P.R.I. está totalmente formado, basta agora melhorar o rendimento
(girar mais vezes, manter a postura, aumentar a tonicidade dos músculos, etc).
Tudo isso para alcançar o P.I.M. e atingir a meta que propus no começo do
texto. Podemos dizer que ele aprendeu a pirueta de Jazz.
Caso passe muito tempo, e o aluno não treine o que aprendeu,
sua execução não estará muito comprometida, apenas seu rendimento, pois este
está ligado com as capacidades físicas, e em pouco tempo ele pode voltar ao
P.I.M.. O que dizer do andar de bicicleta? Quem aprende uma vez, já tem um
P.R.I. formado, por isso consegue rapidamente executar sem muitos problemas.
Da próxima vez que você for aprender um movimento, fique
atento ao que foi falado nesse texto e faça o teste. Tente perceber quando foi
que você adquiriu Padrão de Referência Interno e quando você executará segundo
o Padrão Ideal de Movimento. Sabendo de tudo isso você já é capaz de responder
o por quê você aprende primeiro os passos na diagonal e depois os coloca na
coreografia. Caso não saiba, pergunte. Divirta-se...
Sandro Conte
Referências:
·
PELLEGRINE,
(2002)
·
MARTINS E IVANOV,
(2009)
·
MAGILL, (2000)
·
FITS AND POSNER,
(1967)
·
SCHMIDT, (1993)
·
FRANCO, (2002)
segunda-feira, 25 de março de 2013
Conhecimento é Poder
Todo esse envolvimento que temos
hoje em dia com o conhecimento, sem dúvidas, é fruto de relações históricas.
Relações essas germinadas no fim da idade média e concebidas na revolução
científica do século XVII e XVIII.
Entre muitos outros colaboradores
pra um novo tipo de pensamento sobre o conhecimento, destaca-se Galileu
Galilei. Numa fase onde a ciência moderna dava seus primeiros passos, existia
uma questão econômica fundamental, a transcrição de um sistema socioeconômico
baseado no dogmatismo religioso para outro que futuramente seria (e é)baseado
no dogmatismo do Capital.
Esse novo bloco conceitual
emergente no Europa ocidental exigia maior aproveitamento do tempo, e maior eficiência na distribuição e produção
de produtos. A frase de efeito escondida pelos meios de alienação midiáticos da
época era: Capital é o poder. Mas como alcançar a amplitude necessária do
capital (agora falamos de um número tão alto que seria impossível de nós, seres
humanos, imaginar) suficientemente para termos poder (principalmente político)?
Sim, a ciência foi essa
contribuição. Na verdade a frase de efeito estava incompleta: Quem tem
Conhecimento (científico) tem capital, e quem tem capital tem poder. A ciência
poderia criar uma nova forma de pensar que revolucionaria os meios de obtenção
de capital, A Mecanização do pensamento racional.
Com a mecanização, agora a
natureza era vista de forma racional, como uma máquina, com partes que poderiam
ser facilmente examinadas, separadas, estudadas etc. O conceito chave dessa
questão é que o ser humano passou a ser Coisificado, pois ao fazer parte da
natureza, ele faria parte do pensamento mecanicista (sendo mais específico, até
Deus passou a ser questionado como sendo um ser racional, por ser imagem e
semelhança dos homes, e que por isso não poderíamos acreditar em coisas sem
fundamento científico como a religião, mas isso faz parte de uma outra
discussão sobre o Deísmo).
Conhecimento a partir das
revoluções tecnológicas e industriais passou a fazer parte de campos mais
individualista, das classes sociais que procuravam cada vez mais poder. E assim
segue até os dias de hoje.
Alongamentos: uma viagem ao interior dos músculos
Hoje vou desenvolver um tema para os leitores um pouco mais
técnico, mas com uma linguagem facilitada. Vou explicar como funcionam os
exercícios de alongamento, e para isso devo começar falando sobre algumas
estruturas dos nossos músculos esqueléticos.
Nosso corpo é formado por três tipos de músculos: o Cardíaco
(que representa a estrutura do nosso coração e cumpre a função de bombeamento
se sangue), o Liso (que reveste a maioria de nossos órgãos internos e tem a
função de realizar movimentos involuntários, podem ser encontrados no estômago,
esôfago, artérias, intestino, entre outros) e o Esquelético, que é o que vai
nos interessar nesse texto.
O músculo esquelético é encontrado, como o nome diz, aderido
aos ossos do corpo humano. Desempenham uma função voluntária de movimentar as
diversas partes de nosso corpo, como flexionar o cotovelo, estender o joelho,
rotacionar o pescoço etc.
Este tipo de músculo é formado por pequenas estruturas
chamadas fibras musculares, que juntas formam os feixes de fibras. Essas fibras
são estruturas bem finas e alongadas que se projetam de uma extremidade a outra
do músculo. Para entender melhor, imaginem vários elásticos. Corte-os para
obter pedaços compridos, e não anéis. Agora os prenda pelas extremidades. Isso
representa um feixe de fibras musculares, e cada elástico uma fibra muscular.
Envolvendo algumas dessas fibras, existem estruturas
espiraladas não elásticas (que vão representar linhas de costura entrelaçadas
em alguns elásticos do feixe). São chamadas de “fusos neuromusculares” e quando
os músculos sofrem um alongamento, eles se desespiralam, pois o tamanho das
fibras aumenta. Quando isso ocorre, automaticamente, os fusos mandam mensagens
ao nosso sistema nervoso de que nosso músculo está sendo forçado a se alongar mais
que o normal, e o sistema nervoso central retorna uma resposta também imediata:
a dor.
Então é por isso que quanto maior a amplitude do alongamento
maior a dor? Sim, isso acontece porque os fusos de desespiralam cada vez mais,
mandando mais e mais informações para o cérebro de que o músculo está passando
por condições de alongamento que normalmente não passa e o mesmo envia uma
sensação de dor cada vez maior, a fim de proteger a estrutura muscular.
Quando alongamos com uma amplitude muito grande, as fibras
neuromusculares (nossas linhas de costura) passam a desempenhar outra função
que não é a de promover a dor. Elas, involuntariamente, fazem nossos músculos
contraírem impedindo o alongamento excessivo.
Existem algumas formas de enganar a função de contração
muscular gerada pelo fuso. Esse método é o mais eficiente para se aumentar a
mobilidade ou amplitude de uma articulação (flexibilidade do músculo). Chama-se
FNP (facilitação neuromuscular proprioceptiva). O FNP se baseia em alongar um
músculo até determinada amplitude da articulação (com auxílio de um professor),
permanecer por um tempo de forma estática e forçar uma contração voluntária no
sentido inverso do alongamento. Tal contração voluntária gera um desequilíbrio
na função de nossos fusos, impedindo que os mesmo “avisem” o sistema nervoso
central de que o músculo está sendo alongado. Logo após a contração, aumenta-se
a amplitude e este processo volta a ocorrer duas ou três vezes até chegar ao máximo
alongamento muscular.
O FNP é o tipo de alongamento mais perigoso para romper
algumas estruturas do músculo, pois uma vez descontrolada a função dos fusos
neuromusculares, atingimos amplitudes maiores do que podíamos e isso pode gerar
lesões. (imaginem que nosso feixe de elásticos se esticou tanto que alguns dos
elásticos se romperam, e as linhas de costura não agüentaram a tensão e também
quebraram).
Essas lesões podem afastar um praticante dos treinos por
alguns dias e isso não é interessante. É importante que esse tipo de
alongamento seja feita sempre com auxílio de um professor, nunca sem
orientação.
Existem outros tipos de alongamento para aumentar a
amplitude articular (e o ideal é que os alongamentos para aumentar a
flexibilidade sejam feitos em um dia específico, ou antes de exercícios de
força, pois se for feito depois, pode prejudicar o tecido muscular aumentando o
tempo para a recuperação do músculo).
Os alongamentos podem aparecer também no aquecimento, mas
esses não têm como objetivo principal buscar a flexibilidade, mas sim preparar
o músculo para a atividade seguinte. Esse tipo de alongamento não deve ser
forçado em grande amplitude, mas sim ao natural, sem que haja dor.
No geral a flexibilidade traz muitos benefícios específicos
(de cada modalidade, por exemplo um chute bem alto) e gerais (que facilitam o
dia-a-dia, como calçar um tênis ou coçar as costas). Vale lembrar que é uma
capacidade do ser humano, e por ser uma capacidade, pode ser treinada e se
tornar um dos objetivos de treino.
- WILLIAM
D. MCARDLE & FRANK I. KATCH & VICTOR L. KATCH. Fisiologia
do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Guanabara Koogan, 2008;
A Arte e os Sentimentos Corporais
Nosso corpo pode se manifestar de
diversas maneiras diante de nossa realidade, seja por meio do trabalho, do
amor, do sexo, de ações em geral e da arte.
Ao passo que analisamos a
natureza e nos sentimos transformados diante de suas exuberâncias, já podemos
dizer que estamos trabalhando. Para isso, é imprescindível que realizemos
forças com o corpo humano.
As ferramentas, armas e máquinas
nada mais são do que ampliações do poder do corpo, assim como um computador é o
prolongamento de nosso cérebro, um martelo ou uma espada são o prolongamento de
nossos punhos fechados.
No entanto, a forma do objeto que
usamos entrelaçada com o nosso projeto de trabalho, formam uma referência a
respeito do seu agir sobre o mundo. Pois um instrumento é utilizado de acordo
com aquilo que conferimos: uma Lança para um caçador neolítico, não significa a
mesma Lança a um soldado de exército.
Numa atividade física, a
integração do sujeito com seu corpo, se torna ainda mais clara. Diferente do
clichê de que exercícios promovem apenas treinamento muscular, momento de
descontração e condição de equilíbrio fisiológico, um treinamento esportivo é o
apelo ao aperfeiçoamento incessante, pondo em função o esforço do esportista.
Realizando movimentos físicos,
abrimos uma condição essencial ao praticante, pois a combinação exata de um
movimento, com uma intenção que lhe propõe, transmite o tal do espírito. Ter
‘’espírito’’ é simplesmente produzir artisticamente, posto que arte é a
realização de uma habilidade naturalmente fluente.
A arte nas artes marciais, por
exemplo, é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para
seu realizador, quanto para seu apreciador, pois com a biomecânica corporal
temos que ser capazes de transmitir sentimentos.
Para que se transmita sentimento,
é preciso ter emoção, ou seja, um estado psicológico que envolve agitação
afetiva que te levará a uma reação cognitiva de reconhecimentos de certas
estruturas do mundo.
Por tanto para quem ainda
considera sua modalidade apenas mais uma atividade física, ainda não se
descobriu como ser humano, e ainda não reconhece que o mundo está em suas mãos
e basta um olhar íntimo dessa realidade para transmitirmos sentimentos que só
reconhecemos em quem realmente conhece a arte.
Referências:
ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda ET al - Filosofando, Introdução a Filosofia - Moderna,
São Paulo, 2003
PROENÇA,
Graça - História da Arte - Editora Ática, São Paulo, 2004
A Tal da Saúde e do Bem-estar
Quando se falava em saúde, algumas
décadas atrás, faz-se referência quase que exclusivamente a uma única entidade
na sociedade. O médico. O papel do médico na formação da sociedade brasileira
foi definitivo na mudança sócio-cultural no que diz respeito ao estilo de vida.
Com os avanços da Revolução
Industrial aglomerou-se abruptamente um maior contingente no meio urbano. O
estilo de vida do ex-trabalhador rural, ativo, passou a cada vez mais se tornar
sedentário.
As várias doenças hipocinéticas (por
falta de atividade física, como obesidade, hipertensão, altos níveis de
colesterol, etc.) foram fruto dessa mudança brusca que sofreu o costume dos
cidadãos.
O próprio sistema expropriou o que o
homem mais tinha de valioso, a força de trabalho. Trabalhadores sedentários
significavam trabalhadores fracos e doentes, e com isso mão-de-obra pouco
eficiente.
Aí que entrou o papel do médico. Com
a ajuda da mídia e do Estado ele foi relacionado ao membro mais sublime da
sociedade, pois curava aquilo que impedia o capitalismo de crescer,
proporcionando saúde à massa e conscientização de um estilo de vida mais ativo.
Aos poucos, percebeu-se que não só
as doenças criam a falta de sanidade no ser humano. Precisávamos de corpos
fortes, mentes tranquilas, e pessoas felizes. Esses fatores positivos eram
vistos com maior eficiência na produção inserida na lógica desse sistema.
A conscientização da nova tendência de saúde começou a
acoplar novas ciências ao seu tratamento. Nutrição, fisioterapia, psicologia e
educação física. Nesse momento (final do século XX) não se falava mais em saúde
para evitar doenças, mas sim em saúde física, mental, emocional e social, sendo
assim, estar com o corpo condicionado e com boas capacidades físicas, estar
emocionalmente equilibrado, ter uma boa relação com as pessoas de seu convívio
e estar satisfeito consigo mesmo.
Para alcançar este Ser inteiramente saudável em todos os
componentes era preciso uma interação utópica de vários fatores que afetariam
mais uma vez o estilo de vida das pessoas.
Essa foi a fase de ouro da prática de atividade física. Pois
praticar exercícios evitava o surgimento de doenças, melhorava a aptidão física,
promovia o relaxamento e prazer e ainda influenciava nas relações sociais e
emocionais das pessoas.
Com o avanço da ciência e o aumento das pesquisas e estudos
sobre as tendências da atividade física, um novo conceito foi atribuído a sua
prática. O fornecimento do bem-estar.
As relações de trabalho de um mundo cada vez mais agitado transformaram
as pessoas em acumuladoras de estresse. A tensão (estresse) da vida
contemporânea, advinda de várias partes da insatisfação pela rotina, faz com
que as pessoas mesmo que fisicamente saudáveis, psicologicamente apresentassem
quadros patológicos e esgotamento do prazer.
Até hoje em dia, a promoção da saúde aliada ao bem-estar
social, emocional, físico, mental e espiritual, faz referência aos programas de
treinamento que buscam aliviar os fatores estressantes, melhorar as relações
sociais, fazer com que o aluno se aceite como é, além de cuidar de sua aptidão
física. Em fim, fortalecer constantemente a energia pessoal de cada praticante.
Bibliografia:
·
GUISELINI,
Mauro - Aptidão Física, Saúde, Bem-estar – Fundamentos Teóricos e Exercícios
Práticos – Phorte 2ªed. São Paulo, 2006;
·
SOARES,
Sandra Della Fonte, LOUREIRO, Róbson – A Ideologia da Saúde e a Educação Física – Ver. Brasileira de
Ciências do Esporte, Rio de Janeiro, 1998;
Postagem Original no Blog TSKF http://tskfblog.blogspot.com.br/
Minha Mente, Meu Corpo
A partir do século XV onde as caravelas eram os mais modernos meios de transporte, o mundo presenciou a raiz de uma nova ordem mundial, a Globalização. As grandes navegações e a busca por relações coloniais lançaram um contingente relativamente grande para fora de suas fronteiras a fim de buscar melhores condições econômicas.
Enquanto a América foi retalhada por grandes potências europeias, as mesmas
enxergavam no oriente um grande potencial de comércio. As famigeradas
especiarias eram as chaves de um conceito fundamental para a formação da
cultura européia ocidental que, inevitavelmente, expandiu-se para suas colônias
assim como a terra do pau-brasil.
Noções filosóficas sobre anatomia, neurologia e psicologia, miscigenaram idéias
pré-feudais clássicas com idéias orientais religiosas, provocando uma nova
forma de pensar sobre a relação ‘’corpo x mente’’.
Atualmente essas idéias voltaram a tona, e mais uma disciplina entrou na
discussão: a Educação Física, aliada à tendência do bem-estar físico e mental.
Enquanto para os ocidentais corpo é algo distinto de mente, para a cultura
oriental, mente e corpo fazem parte de um mesmo processo. Enxergamos a mente
como a essência e o corpo como a aparência, quando na verdade os dois são
intimamente próximos. É inevitável separar suas emoções e sentimentos de
movimentos corporais.
Para ilustrar, imagine o aspecto físico de uma pessoa triste, ou muito
feliz. Esses dois sentimentos provocam nosso acervo motor e nos dão
características típicas e previsíveis.
Por mais que, às vezes, tentamos esconder o que sentimos, as pessoas ao redor
sempre vão saber que o sentimento está presente. Todos conseguem perceber, com
atenção, o verdadeiro sentimento de alguém. Muitas vezes isso se manifesta em
forma de intuição, mas a intuição é a percepção involuntária dos movimentos,
mesmo que sutis, do corpo dos sujeitos.
Nós não temos um braço, nem uma perna, nem uma mente, e sim somos um
braço, perna e mente. Basta você perceber que o tato, um dos cinco sentidos dos
seres humanos, funciona de acordo com a nossa mente.
Mas onde se esconde a mente? Você pode imaginar que ela está em nosso cérebro,
porém se cortarmos um cérebro ao meio não conseguimos anatomicamente
encontrá-la, por isso, para os orientais nossa mente nada mais é que a existência
de nosso corpo vivo. Semelhantemente podemos intertextualizar esta ideia com
uma famosa frase de René Descartes: ‘’Penso, logo existo’’.
Pessoas que sentem problemas emocionais prolongados sofrem sérios riscos
de transformar a postura corporal. As que têm muita timidez, por exemplo, podem
desenvolver uma contratura muscular Crônica no músculo peitoral, e com isso
adquirem postura típica de um sujeito envergonhado, com flexão de tronco e
peito retraído.
Não só a musculatura sofre conseqüências dos sentimentos. Quando ficamos
nervosos podemos observar uma maior irrigação sanguínea na cabeça e, por isso,
a pessoa aparenta rosto avermelhado.
O esporte e as outras atividades físicas são experiências de origem
corporal, mas como corpo e mente são interligados, treinando o corpo atingimos
a mente (no hemisfério Afetivo e cognitivo). A prática de exercícios inverte o
fluxo normal de sentido ‘’mente’’(pensamento ou emoção) e ‘’resposta
motora’’(movimentação do corpo) provocando um deslocamento de origem motora
para alcançar a mente.
Na verdade esses ‘’caminhos’’ percorridos entre mente x corpo ou corpo x mente,
são os mesmos, já que os dois não podem ser dualizados. Seu corpo e sua mente
fazem parte de um mesmo ego, que por ser vivo, existe materialmente expressando-se
com o meio ambiente ao mesmo tempo motora, cognitiva e afetivamente,
apresentando níveis variáveis de seus usos e exposição aparente.
Sandro Conte Febras
Bibliografia
‘’Couraça muscular do caráter’’ - José Angelo Gaiarsa
‘’Corpo mente’’ - Ken Dychtwald
‘’Corpo fala’’ - Pierre Weil
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