Hoje vou desenvolver um tema para os leitores um pouco mais
técnico, mas com uma linguagem facilitada. Vou explicar como funcionam os
exercícios de alongamento, e para isso devo começar falando sobre algumas
estruturas dos nossos músculos esqueléticos.
Nosso corpo é formado por três tipos de músculos: o Cardíaco
(que representa a estrutura do nosso coração e cumpre a função de bombeamento
se sangue), o Liso (que reveste a maioria de nossos órgãos internos e tem a
função de realizar movimentos involuntários, podem ser encontrados no estômago,
esôfago, artérias, intestino, entre outros) e o Esquelético, que é o que vai
nos interessar nesse texto.
O músculo esquelético é encontrado, como o nome diz, aderido
aos ossos do corpo humano. Desempenham uma função voluntária de movimentar as
diversas partes de nosso corpo, como flexionar o cotovelo, estender o joelho,
rotacionar o pescoço etc.
Este tipo de músculo é formado por pequenas estruturas
chamadas fibras musculares, que juntas formam os feixes de fibras. Essas fibras
são estruturas bem finas e alongadas que se projetam de uma extremidade a outra
do músculo. Para entender melhor, imaginem vários elásticos. Corte-os para
obter pedaços compridos, e não anéis. Agora os prenda pelas extremidades. Isso
representa um feixe de fibras musculares, e cada elástico uma fibra muscular.
Envolvendo algumas dessas fibras, existem estruturas
espiraladas não elásticas (que vão representar linhas de costura entrelaçadas
em alguns elásticos do feixe). São chamadas de “fusos neuromusculares” e quando
os músculos sofrem um alongamento, eles se desespiralam, pois o tamanho das
fibras aumenta. Quando isso ocorre, automaticamente, os fusos mandam mensagens
ao nosso sistema nervoso de que nosso músculo está sendo forçado a se alongar mais
que o normal, e o sistema nervoso central retorna uma resposta também imediata:
a dor.
Então é por isso que quanto maior a amplitude do alongamento
maior a dor? Sim, isso acontece porque os fusos de desespiralam cada vez mais,
mandando mais e mais informações para o cérebro de que o músculo está passando
por condições de alongamento que normalmente não passa e o mesmo envia uma
sensação de dor cada vez maior, a fim de proteger a estrutura muscular.
Quando alongamos com uma amplitude muito grande, as fibras
neuromusculares (nossas linhas de costura) passam a desempenhar outra função
que não é a de promover a dor. Elas, involuntariamente, fazem nossos músculos
contraírem impedindo o alongamento excessivo.
Existem algumas formas de enganar a função de contração
muscular gerada pelo fuso. Esse método é o mais eficiente para se aumentar a
mobilidade ou amplitude de uma articulação (flexibilidade do músculo). Chama-se
FNP (facilitação neuromuscular proprioceptiva). O FNP se baseia em alongar um
músculo até determinada amplitude da articulação (com auxílio de um professor),
permanecer por um tempo de forma estática e forçar uma contração voluntária no
sentido inverso do alongamento. Tal contração voluntária gera um desequilíbrio
na função de nossos fusos, impedindo que os mesmo “avisem” o sistema nervoso
central de que o músculo está sendo alongado. Logo após a contração, aumenta-se
a amplitude e este processo volta a ocorrer duas ou três vezes até chegar ao máximo
alongamento muscular.
O FNP é o tipo de alongamento mais perigoso para romper
algumas estruturas do músculo, pois uma vez descontrolada a função dos fusos
neuromusculares, atingimos amplitudes maiores do que podíamos e isso pode gerar
lesões. (imaginem que nosso feixe de elásticos se esticou tanto que alguns dos
elásticos se romperam, e as linhas de costura não agüentaram a tensão e também
quebraram).
Essas lesões podem afastar um praticante dos treinos por
alguns dias e isso não é interessante. É importante que esse tipo de
alongamento seja feita sempre com auxílio de um professor, nunca sem
orientação.
Existem outros tipos de alongamento para aumentar a
amplitude articular (e o ideal é que os alongamentos para aumentar a
flexibilidade sejam feitos em um dia específico, ou antes de exercícios de
força, pois se for feito depois, pode prejudicar o tecido muscular aumentando o
tempo para a recuperação do músculo).
Os alongamentos podem aparecer também no aquecimento, mas
esses não têm como objetivo principal buscar a flexibilidade, mas sim preparar
o músculo para a atividade seguinte. Esse tipo de alongamento não deve ser
forçado em grande amplitude, mas sim ao natural, sem que haja dor.
No geral a flexibilidade traz muitos benefícios específicos
(de cada modalidade, por exemplo um chute bem alto) e gerais (que facilitam o
dia-a-dia, como calçar um tênis ou coçar as costas). Vale lembrar que é uma
capacidade do ser humano, e por ser uma capacidade, pode ser treinada e se
tornar um dos objetivos de treino.
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