sábado, 30 de março de 2013

Educação Física e o Vestibular


Hoje quero mostrar que a Educação Física também está presente nos vestibulares. Porém, infelizmente, não está presente do modo apropriado nas escolas. Sem muitos comentários, tente resolver as questões, que na maioria só exigem atenção e interpretação de texto. Gabarito e comentários abaixo.

90 (FUVEST 2012 - Primeira Fase)
O gráfico abaixo representa a força F exercida pela musculatura eretora sobre a coluna vertebral, ao se levantar um peso, em função do ângulo I, entre a direção da coluna e a horizontal. Ao se levantar pesos com postura incorreta, essa força pode se tornar muito grande, causando dores lombares e problemas na coluna.

Com base nas informações dadas e no gráfico acima, foram feitas as seguintes afirmações:
I.            Quanto menor o valor do ângulo, maior o peso que se consegue levantar.
II.            Para evitar problemas na coluna, um halterofilista deve procurar levantar pesos adotando postura corporal cujo ângulo  seja grande.
III.            Quanto maior o valor de ângulo, menor a tensão na musculatura eretora ao se levantar um peso.
Está correto apenas o que se afirma em:
a)I      b)II      c)III      d)I e II      e)II e III

132 (ENEM 2012)

108 (ENEM 2011)

108 (UEL - Universidade Estadual de Londrina, 2012)
Observe a obra de Henri Matisse intitulada A dança e
marque o que for correto em relação ao tema.

(HENRI MATISSE, Dança (primeira versão), 1909. Óleo s/tela,
640x423cm. MoMa, Nova Iorque. Retirado de PARANÁ. Arte:
Ensino Médio. Curitiba: SEED, 2006, p. 307.)

01) A obra A dança, de Henri Matisse, representada por
cinco corpos nus em movimento, ilustra a dança
como uma forma de linguagem corporal, permitindo
diferentes possibilidades e combinações de
movimentos. Nesse sentido, a dança pode ser
entendida também como uma forma de expressão e
apropriação do mundo.
02) As danças veiculadas pela televisão são conhecidas
como danças populares por serem popularizadas nas
paradas de sucesso e consumidas pela população.
Elas assumem formas corporais semelhantes às
representadas nessa obra de Matisse.
04) A dança expressa na obra de Matisse é conhecida
como balé clássico, uma vez que ela prevê a
completa harmonia, a valorização da técnica e a
excelência dos gestos corporais.
08) São perceptíveis, na obra aqui reproduzida, formas
distintas de expressão do corpo, organizadas a partir
da entrega ao gesto coletivo, representado, em
especial, pelo ato de dar as mãos.
16) A forma livre de expressão do corpo na obra A dança
identifica corpos dançantes arrítmicos (sem ritmo).
Isso ocorre porque o ritmo pressupõe movimento
ordenado, métrico e organizado temporalmente, o
que não ocorre na figura



.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Gabarito:

Fuvest -  alternativa: e
Essa questão estava na prova de Física da PRIMEIRA FASE. Foi um presente paras os vestibulandos, já que a prova de física é sempre uma das mais temidas. Essa só exigia compreensão de texto e análise de gráfico. Primeira leitura importante, que a fuvest adora brincar, verifique que o ângulo, no gráfico a curva não é infinita, ele vai até uma região próxima de 90 graus. Na sequência ele faz três afirmações e pede as corretas. Na primeira afirmação, basta ver o gráfico, quanto menor o ângulo, maior a força que os músculos terão de fazer, por tanto, menor o peso que se consegue levantar. Na segunda: levando em consideração a curva no gráfico, é verdadeiro, pois quanto mais ereta a coluna, menores os problemas articulares. A terceira: verdadeira também, pelo mesmo motivo, quanto mais próximo aos 90 graus menor a tensão nos músculos eretores da coluna.

Enem 2012 - alternativa: a
Também é questão de interpretação, pois os dois benefícios da alternativa certa, estão escritos no desenho acima. A Bradicardia, menor ritmo cardíaco em repouso, e melhor eficiência na circulação de oxigênio no sangue, são adaptações crônicas positivas decorrente da prática de exercícios regulares.

Enem 2011 - alternativa: a
Essa questão pode ser respondida por eliminatória facilmente. Na alternativa b, o texto diz que o que a dança revela, desconsidera os fatos históricos, e isso é falso, já que a dança, assim como qualquer outra gradeza de arte, está intimamente relacionada aos fatos e movimentos históricos. Na c, o texto diz que aspectos mitológicos e religiosos, se sobrepõe aos aspectos políticos, fácil saber que é falso, só pensar no período da ditadura militar, por exemplo, onde a política plastificou as manifestações artísticas. Na d, o texto diz algo sobre classificação em ranking das mais originais, e isso é uma afirmação estranha. Na última mesma coisa que a alternativa b e c.

UEL - alternativas: 1 e 8
Também por eliminatória: 2- as danças veiculadas na televisão, são danças de massa, e não populares, se fossem, teríamos que assistir carimbó, frevo, ciranda, etc no lugar de funk e axé por exemplo. 4- Esta movimentação está longe de ser o balé clássico, pois não apresenta preocupação com forma nem técnica. 16- impossível saber se estão arrítmicos em uma foto, além do que, pela etimologia da palavra, ritmo significa harmonia de movimento, que sugere efeito subjetivo.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Aprendendo o Aprender


Acho importante tratar hoje sobre um tema que todos deveriam saber muito bem. Como o ser humano aprende? Como funciona o mecanismo de armazenamento de dados de nosso cérebro? Você realmente nunca desaprende andar de bicicleta? Entenda a partir de agora como nosso corpo interpreta as instruções de nossos professores e como nós conseguimos reproduzir os movimentos mostrados por ele.

O processo de aprendizagem inicia sempre com um estímulo sensorial. Começamos a perceber o mundo principalmente através da visão e audição. Vamos imaginar que dois alunos precisam aprender uma pirueta de Jazz, por exemplo, e que estes alunos nunca tiveram acesso à música ou dança antes, e não faziam idéia do que se tratava a tal pirueta. O primeiro passo é a utilização da visão. O professor mostra como se faz e pede para que o imitem. Depois de alguns segundos, ou até mesmo milésimos de segundos, eles executam um movimento semelhante ao que viram. Um deles muito bem executado, o outro apresentando muitas falhas. Uma semana depois ambos estão executando a postura sem falhas, mas com um desempenho ruim (sem equilíbrio, por exemplo). Dois meses depois ambos melhoraram o desempenho e, agora já fazem a pirueta segundo um padrão ideal de movimento (P.I.M.), ou seja, assim como o professor mostrou na primeira aula.

Qual o motivo da diferença pela qual um dos alunos demorou mais para executar a postura sem falhas graves? Por que mesmo assim os dois alcançaram o P.I.M.? Vamos entender:
Tudo começou na execução da pirueta pelo professor, onde os olhos dos alunos captaram a imagem da preparação, da postura e do giro. Neste momento os dois ativaram no sistema nervoso central um mecanismo chamado Mecanismo Perceptivo. A imagem vista pelos alunos automaticamente foi processada no cérebro e comparada a algum outro movimento já conhecidos por eles. As pessoas que tiveram uma infância onde foram muito bem estimuladas motoramente têm a chance de achar mais informações nesse momento, e executar com mais facilidade aquilo que viu (este pode ser o caso do primeiro aluno, que não apresentou muitos erros). Quando não achamos nenhum movimento onde podemos comparar com o que foi visto, dizemos que a pessoas não tem um Padrão de Referência Interno (P.R.I.) formado.

Milésimos de segundos depois, nosso cérebro já ativa o segundo mecanismo, o Mecanismo Decisório. Como o nome diz, é quando decidimos o que fazer no plano motor, se imitamos algo que já havíamos feito no passado, ou se executamos um movimento totalmente novo para nós. Quase que ao mesmo tempo já ativamos o próximo mecanismo, o Mecanismo Efetor, que libera estímulos nervosos para o músculo que decidimos utilizar, a fim de executar o movimento.

O próximo passo é responsabilidade do sistema muscular e de nossa capacidade física (força e flexibilidade por exemplo). Depois de todo esse processamento de informações é hora da auto avaliação, ou da avaliação do professor. Onde são fornecidos feedback’s e dicas para o aluno melhorar sua execução. A cada dica fornecida, todo a processamento de informações é repetido, iniciando sempre pela captação dos órgãos sensoriais (nos olhos, se o professor mostrar a postura novamente, nos ouvidos, se o professor apenas deu uma dica verbal, ou em ambos).

Depois das dicas e dos feedback’s, provavelmente o aluno executou o movimento muito parecido com o do professor, suas limitações são apenas força, flexibilidade ou equilíbrio, por exemplo, já que essas capacidades dependem de treino, e são adquiridas com o tempo (por isso só depois de dois meses que os alunos melhoraram seu desempenho). Será que o aluno realmente aprendeu a pirueta? Seu P.R.I. está formado? Ainda não podemos ter certeza. É preciso fazer um Teste de Retenção, ou seja, ver se nas próximas aulas o aluno vai se lembrar de tudo que foi corrigido, ou se ainda precisará de muitas dicas e correções.

Caso o aluno execute o movimento sem precisar de nenhuma correção, seu P.R.I. está totalmente formado, basta agora melhorar o rendimento (girar mais vezes, manter a postura, aumentar a tonicidade dos músculos, etc). Tudo isso para alcançar o P.I.M. e atingir a meta que propus no começo do texto. Podemos dizer que ele aprendeu a pirueta de Jazz.
Caso passe muito tempo, e o aluno não treine o que aprendeu, sua execução não estará muito comprometida, apenas seu rendimento, pois este está ligado com as capacidades físicas, e em pouco tempo ele pode voltar ao P.I.M.. O que dizer do andar de bicicleta? Quem aprende uma vez, já tem um P.R.I. formado, por isso consegue rapidamente executar sem muitos problemas.

Da próxima vez que você for aprender um movimento, fique atento ao que foi falado nesse texto e faça o teste. Tente perceber quando foi que você adquiriu Padrão de Referência Interno e quando você executará segundo o Padrão Ideal de Movimento. Sabendo de tudo isso você já é capaz de responder o por quê você aprende primeiro os passos na diagonal e depois os coloca na coreografia. Caso não saiba, pergunte. Divirta-se...



Sandro Conte


Referências:
·         PELLEGRINE, (2002)
·         MARTINS E IVANOV, (2009)
·         MAGILL, (2000)
·         FITS AND POSNER, (1967)
·         SCHMIDT, (1993)
·         FRANCO, (2002)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Conhecimento é Poder



Todo esse envolvimento que temos hoje em dia com o conhecimento, sem dúvidas, é fruto de relações históricas. Relações essas germinadas no fim da idade média e concebidas na revolução científica do século XVII e XVIII.
Entre muitos outros colaboradores pra um novo tipo de pensamento sobre o conhecimento, destaca-se Galileu Galilei. Numa fase onde a ciência moderna dava seus primeiros passos, existia uma questão econômica fundamental, a transcrição de um sistema socioeconômico baseado no dogmatismo religioso para outro que futuramente seria (e é)baseado no dogmatismo do Capital.
Esse novo bloco conceitual emergente no Europa ocidental exigia maior aproveitamento do tempo, e  maior eficiência na distribuição e produção de produtos. A frase de efeito escondida pelos meios de alienação midiáticos da época era: Capital é o poder. Mas como alcançar a amplitude necessária do capital (agora falamos de um número tão alto que seria impossível de nós, seres humanos, imaginar) suficientemente para termos poder (principalmente político)?
Sim, a ciência foi essa contribuição. Na verdade a frase de efeito estava incompleta: Quem tem Conhecimento (científico) tem capital, e quem tem capital tem poder. A ciência poderia criar uma nova forma de pensar que revolucionaria os meios de obtenção de capital, A Mecanização do pensamento racional.
Com a mecanização, agora a natureza era vista de forma racional, como uma máquina, com partes que poderiam ser facilmente examinadas, separadas, estudadas etc. O conceito chave dessa questão é que o ser humano passou a ser Coisificado, pois ao fazer parte da natureza, ele faria parte do pensamento mecanicista (sendo mais específico, até Deus passou a ser questionado como sendo um ser racional, por ser imagem e semelhança dos homes, e que por isso não poderíamos acreditar em coisas sem fundamento científico como a religião, mas isso faz parte de uma outra discussão sobre o Deísmo).
Conhecimento a partir das revoluções tecnológicas e industriais passou a fazer parte de campos mais individualista, das classes sociais que procuravam cada vez mais poder. E assim segue até os dias de hoje. 

Alongamentos: uma viagem ao interior dos músculos


Hoje vou desenvolver um tema para os leitores um pouco mais técnico, mas com uma linguagem facilitada. Vou explicar como funcionam os exercícios de alongamento, e para isso devo começar falando sobre algumas estruturas dos nossos músculos esqueléticos.


Nosso corpo é formado por três tipos de músculos: o Cardíaco (que representa a estrutura do nosso coração e cumpre a função de bombeamento se sangue), o Liso (que reveste a maioria de nossos órgãos internos e tem a função de realizar movimentos involuntários, podem ser encontrados no estômago, esôfago, artérias, intestino, entre outros) e o Esquelético, que é o que vai nos interessar nesse texto.

O músculo esquelético é encontrado, como o nome diz, aderido aos ossos do corpo humano. Desempenham uma função voluntária de movimentar as diversas partes de nosso corpo, como flexionar o cotovelo, estender o joelho, rotacionar o pescoço etc.

Este tipo de músculo é formado por pequenas estruturas chamadas fibras musculares, que juntas formam os feixes de fibras. Essas fibras são estruturas bem finas e alongadas que se projetam de uma extremidade a outra do músculo. Para entender melhor, imaginem vários elásticos. Corte-os para obter pedaços compridos, e não anéis. Agora os prenda pelas extremidades. Isso representa um feixe de fibras musculares, e cada elástico uma fibra muscular.

Envolvendo algumas dessas fibras, existem estruturas espiraladas não elásticas (que vão representar linhas de costura entrelaçadas em alguns elásticos do feixe). São chamadas de “fusos neuromusculares” e quando os músculos sofrem um alongamento, eles se desespiralam, pois o tamanho das fibras aumenta. Quando isso ocorre, automaticamente, os fusos mandam mensagens ao nosso sistema nervoso de que nosso músculo está sendo forçado a se alongar mais que o normal, e o sistema nervoso central retorna uma resposta também imediata: a dor.

Então é por isso que quanto maior a amplitude do alongamento maior a dor? Sim, isso acontece porque os fusos de desespiralam cada vez mais, mandando mais e mais informações para o cérebro de que o músculo está passando por condições de alongamento que normalmente não passa e o mesmo envia uma sensação de dor cada vez maior, a fim de proteger a estrutura muscular.

Quando alongamos com uma amplitude muito grande, as fibras neuromusculares (nossas linhas de costura) passam a desempenhar outra função que não é a de promover a dor. Elas, involuntariamente, fazem nossos músculos contraírem impedindo o alongamento excessivo.

Existem algumas formas de enganar a função de contração muscular gerada pelo fuso. Esse método é o mais eficiente para se aumentar a mobilidade ou amplitude de uma articulação (flexibilidade do músculo). Chama-se FNP (facilitação neuromuscular proprioceptiva). O FNP se baseia em alongar um músculo até determinada amplitude da articulação (com auxílio de um professor), permanecer por um tempo de forma estática e forçar uma contração voluntária no sentido inverso do alongamento. Tal contração voluntária gera um desequilíbrio na função de nossos fusos, impedindo que os mesmo “avisem” o sistema nervoso central de que o músculo está sendo alongado. Logo após a contração, aumenta-se a amplitude e este processo volta a ocorrer duas ou três vezes até chegar ao máximo alongamento muscular.

O FNP é o tipo de alongamento mais perigoso para romper algumas estruturas do músculo, pois uma vez descontrolada a função dos fusos neuromusculares, atingimos amplitudes maiores do que podíamos e isso pode gerar lesões. (imaginem que nosso feixe de elásticos se esticou tanto que alguns dos elásticos se romperam, e as linhas de costura não agüentaram a tensão e também quebraram).

Essas lesões podem afastar um praticante dos treinos por alguns dias e isso não é interessante. É importante que esse tipo de alongamento seja feita sempre com auxílio de um professor, nunca sem orientação.

Existem outros tipos de alongamento para aumentar a amplitude articular (e o ideal é que os alongamentos para aumentar a flexibilidade sejam feitos em um dia específico, ou antes de exercícios de força, pois se for feito depois, pode prejudicar o tecido muscular aumentando o tempo para a recuperação do músculo).

Os alongamentos podem aparecer também no aquecimento, mas esses não têm como objetivo principal buscar a flexibilidade, mas sim preparar o músculo para a atividade seguinte. Esse tipo de alongamento não deve ser forçado em grande amplitude, mas sim ao natural, sem que haja dor.

No geral a flexibilidade traz muitos benefícios específicos (de cada modalidade, por exemplo um chute bem alto) e gerais (que facilitam o dia-a-dia, como calçar um tênis ou coçar as costas). Vale lembrar que é uma capacidade do ser humano, e por ser uma capacidade, pode ser treinada e se tornar um dos objetivos de treino.



- WILLIAM D. MCARDLE & FRANK I. KATCH & VICTOR L. KATCH. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Guanabara Koogan, 2008;

A Arte e os Sentimentos Corporais


Nosso corpo pode se manifestar de diversas maneiras diante de nossa realidade, seja por meio do trabalho, do amor, do sexo, de ações em geral e da arte.
Ao passo que analisamos a natureza e nos sentimos transformados diante de suas exuberâncias, já podemos dizer que estamos trabalhando. Para isso, é imprescindível que realizemos forças com o corpo humano.
As ferramentas, armas e máquinas nada mais são do que ampliações do poder do corpo, assim como um computador é o prolongamento de nosso cérebro, um martelo ou uma espada são o prolongamento de nossos punhos fechados.
No entanto, a forma do objeto que usamos entrelaçada com o nosso projeto de trabalho, formam uma referência a respeito do seu agir sobre o mundo. Pois um instrumento é utilizado de acordo com aquilo que conferimos: uma Lança para um caçador neolítico, não significa a mesma Lança a um soldado de exército.
Numa atividade física, a integração do sujeito com seu corpo, se torna ainda mais clara. Diferente do clichê de que exercícios promovem apenas treinamento muscular, momento de descontração e condição de equilíbrio fisiológico, um treinamento esportivo é o apelo ao aperfeiçoamento incessante, pondo em função o esforço do esportista.
Realizando movimentos físicos, abrimos uma condição essencial ao praticante, pois a combinação exata de um movimento, com uma intenção que lhe propõe, transmite o tal do espírito. Ter ‘’espírito’’ é simplesmente produzir artisticamente, posto que arte é a realização de uma habilidade naturalmente fluente.
A arte nas artes marciais, por exemplo, é um caso privilegiado de entendimento intuitivo do mundo, tanto para seu realizador, quanto para seu apreciador, pois com a biomecânica corporal temos que ser capazes de transmitir sentimentos.
Para que se transmita sentimento, é preciso ter emoção, ou seja, um estado psicológico que envolve agitação afetiva que te levará a uma reação cognitiva de reconhecimentos de certas estruturas do mundo.
Por tanto para quem ainda considera sua modalidade apenas mais uma atividade física, ainda não se descobriu como ser humano, e ainda não reconhece que o mundo está em suas mãos e basta um olhar íntimo dessa realidade para transmitirmos sentimentos que só reconhecemos em quem realmente conhece a arte.

Referências:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda ET al - Filosofando, Introdução a Filosofia - Moderna, São Paulo, 2003
PROENÇA, Graça - História da Arte - Editora Ática, São Paulo, 2004

A Tal da Saúde e do Bem-estar


Quando se falava em saúde, algumas décadas atrás, faz-se referência quase que exclusivamente a uma única entidade na sociedade. O médico. O papel do médico na formação da sociedade brasileira foi definitivo na mudança sócio-cultural no que diz respeito ao estilo de vida.
Com os avanços da Revolução Industrial aglomerou-se abruptamente um maior contingente no meio urbano. O estilo de vida do ex-trabalhador rural, ativo, passou a cada vez mais se tornar sedentário.
As várias doenças hipocinéticas (por falta de atividade física, como obesidade, hipertensão, altos níveis de colesterol, etc.) foram fruto dessa mudança brusca que sofreu o costume dos cidadãos.
O próprio sistema expropriou o que o homem mais tinha de valioso, a força de trabalho. Trabalhadores sedentários significavam trabalhadores fracos e doentes, e com isso mão-de-obra pouco eficiente.
Aí que entrou o papel do médico. Com a ajuda da mídia e do Estado ele foi relacionado ao membro mais sublime da sociedade, pois curava aquilo que impedia o capitalismo de crescer, proporcionando saúde à massa e conscientização de um estilo de vida mais ativo.
Aos poucos, percebeu-se que não só as doenças criam a falta de sanidade no ser humano. Precisávamos de corpos fortes, mentes tranquilas, e pessoas felizes. Esses fatores positivos eram vistos com maior eficiência na produção inserida na lógica desse sistema.
A conscientização da nova tendência de saúde começou a acoplar novas ciências ao seu tratamento. Nutrição, fisioterapia, psicologia e educação física. Nesse momento (final do século XX) não se falava mais em saúde para evitar doenças, mas sim em saúde física, mental, emocional e social, sendo assim, estar com o corpo condicionado e com boas capacidades físicas, estar emocionalmente equilibrado, ter uma boa relação com as pessoas de seu convívio e estar satisfeito consigo mesmo.
Para alcançar este Ser inteiramente saudável em todos os componentes era preciso uma interação utópica de vários fatores que afetariam mais uma vez o estilo de vida das pessoas.
Essa foi a fase de ouro da prática de atividade física. Pois praticar exercícios evitava o surgimento de doenças, melhorava a aptidão física, promovia o relaxamento e prazer e ainda influenciava nas relações sociais e emocionais das pessoas.
Com o avanço da ciência e o aumento das pesquisas e estudos sobre as tendências da atividade física, um novo conceito foi atribuído a sua prática. O fornecimento do bem-estar.
As relações de trabalho de um mundo cada vez mais agitado transformaram as pessoas em acumuladoras de estresse. A tensão (estresse) da vida contemporânea, advinda de várias partes da insatisfação pela rotina, faz com que as pessoas mesmo que fisicamente saudáveis, psicologicamente apresentassem quadros patológicos e esgotamento do prazer.
Até hoje em dia, a promoção da saúde aliada ao bem-estar social, emocional, físico, mental e espiritual, faz referência aos programas de treinamento que buscam aliviar os fatores estressantes, melhorar as relações sociais, fazer com que o aluno se aceite como é, além de cuidar de sua aptidão física. Em fim, fortalecer constantemente a energia pessoal de cada praticante.




Bibliografia:
·         GUISELINI, Mauro - Aptidão Física, Saúde, Bem-estar – Fundamentos Teóricos e Exercícios Práticos – Phorte 2ªed. São Paulo, 2006;
·         SOARES, Sandra Della Fonte, LOUREIRO, Róbson – A Ideologia da Saúde e  a Educação Física – Ver. Brasileira de Ciências do Esporte, Rio de Janeiro, 1998;


Postagem Original no Blog TSKF http://tskfblog.blogspot.com.br/

Minha Mente, Meu Corpo




A partir do século XV onde as caravelas eram os mais modernos meios de transporte, o mundo presenciou a raiz de uma nova ordem mundial, a Globalização. As grandes navegações e a busca por relações coloniais lançaram um contingente relativamente grande para fora de suas fronteiras a fim de buscar melhores condições econômicas.

Enquanto a América foi retalhada por grandes potências europeias, as mesmas enxergavam no oriente um grande potencial de comércio. As famigeradas especiarias eram as chaves de um conceito fundamental para a formação da cultura européia ocidental que, inevitavelmente, expandiu-se para suas colônias assim como a terra do pau-brasil.


Noções filosóficas sobre anatomia, neurologia e psicologia, miscigenaram idéias pré-feudais clássicas com idéias orientais religiosas, provocando uma nova forma de pensar sobre a relação ‘’corpo x mente’’.



Atualmente essas idéias voltaram a tona, e mais uma disciplina entrou na discussão: a Educação Física, aliada à tendência do bem-estar físico e mental.



Enquanto para os ocidentais corpo é algo distinto de mente, para a cultura oriental, mente e corpo fazem parte de um mesmo processo. Enxergamos a mente como a essência e o corpo como a aparência, quando na verdade os dois são intimamente próximos. É inevitável separar suas emoções e sentimentos de movimentos corporais.


Para ilustrar, imagine o aspecto físico de uma pessoa triste, ou muito feliz. Esses dois sentimentos provocam nosso acervo motor e nos dão características típicas e previsíveis.



Por mais que, às vezes, tentamos esconder o que sentimos, as pessoas ao redor sempre vão saber que o sentimento está presente. Todos conseguem perceber, com atenção, o verdadeiro sentimento de alguém. Muitas vezes isso se manifesta em forma de intuição, mas a intuição é a percepção involuntária dos movimentos, mesmo que sutis, do corpo dos sujeitos.
Nós não temos um braço, nem uma perna, nem uma mente, e sim somos um braço, perna e mente. Basta você perceber que o tato, um dos cinco sentidos dos seres humanos, funciona de acordo com a nossa mente.



Mas onde se esconde a mente? Você pode imaginar que ela está em nosso cérebro, porém se cortarmos um cérebro ao meio não conseguimos anatomicamente encontrá-la, por isso, para os orientais nossa mente nada mais é que a existência de nosso corpo vivo. Semelhantemente podemos intertextualizar esta ideia com uma famosa frase de René Descartes: ‘’Penso, logo existo’’.


Pessoas que sentem problemas emocionais prolongados sofrem sérios riscos de transformar a postura corporal. As que têm muita timidez, por exemplo, podem desenvolver uma contratura muscular Crônica no músculo peitoral, e com isso adquirem postura típica de um sujeito envergonhado, com flexão de tronco e peito retraído.



Não só a musculatura sofre conseqüências dos sentimentos. Quando ficamos nervosos podemos observar uma maior irrigação sanguínea na cabeça e, por isso, a pessoa aparenta rosto avermelhado.



O esporte e as outras atividades físicas são experiências de origem corporal, mas como corpo e mente são interligados, treinando o corpo atingimos a mente (no hemisfério Afetivo e cognitivo). A prática de exercícios inverte o fluxo normal de sentido ‘’mente’’(pensamento ou emoção) e ‘’resposta motora’’(movimentação do corpo) provocando um deslocamento de origem motora para alcançar a mente.



Na verdade esses ‘’caminhos’’ percorridos entre mente x corpo ou corpo x mente, são os mesmos, já que os dois não podem ser dualizados. Seu corpo e sua mente fazem parte de um mesmo ego, que por ser vivo, existe materialmente expressando-se com o meio ambiente ao mesmo tempo motora, cognitiva e afetivamente, apresentando níveis variáveis de seus usos e exposição aparente.



Sandro Conte Febras


Bibliografia
‘’Couraça muscular do caráter’’ - José Angelo Gaiarsa
‘’Corpo mente’’ - Ken Dychtwald
‘’Corpo fala’’ - Pierre Weil

Postagem Original no Blog TSKF http://tskfblog.blogspot.com.br/